De Freguês a Consumidor

Tudo começou com a organização científica do trabalho e a linha de montagem, nos alvores do século xx. Os EUA, ainda com discrição, preparavam-se para liderar o progresso. Entre as duas guerras mundiais, quando o mundo já girava à volta do petróleo e da eletricidade, a crise de 1929 aguçou o engenho. Inventou-se o supermercado e a química revolucionou a indústria do medicamento. Mas era preciso um acontecimento que desse o tiro de partida do consumo de massas. Este arrancou com sucesso incontestável em 1945. A massificação era o grande projeto da civilização ocidental. Até hoje, vivemos segundo essa força da gravidade.

De Freguês a Consumidor é uma viagem por esses 70 anos de danças e contradanças, de triunfos e desânimos, de opulências e quimeras, da passagem do industrial ao pós-industrial, da mudança acelerada de paradigmas em que a comunicação e o digital se posicionaram como energias motrizes. Pelo caminho, assistimos ao triunfo do individualismo, à alegria dos cromados, à vertigem das modas, à transfiguração do freguês em consumidor. O livro centra-se nesta personagem sempre em mutação. É a história abreviada de triliões de necessidades e desejos: no vestuário e no calçado, no equipamento doméstico, nas artes da mesa, nas veleidades do conforto, nas tecnologias do transporte e das comunicações, nas indústrias do entretenimento. O consumidor não é o rei do mercado, mas é a figura central destas sociedades democráticas, que só poderão subsistir enquanto houver esta incomensurável classe média.